por Paulo Mendes
Eram poucos, uma meia dúzia. Uns se conheciam, outros foram chegando e se conhecendo em meio ao tumulto dos dias que se seguiram. Era um tropel, era bala que zunia, era ferro que batia contra ferro, eram ideias, sementes e sonhos, quase como lanças, quase como espadas, aço contra aço que se cruzavam nos entreveros. Foram dias multicores, manhãs de primavera. Seus espíritos transbordavam de chamas como o fogo de chão nos galpões grandes nas estâncias da alma. Assim, formaram uma trupe e fizeram as escaramuças, conquistaram cidades, combateram o inimigo em todas as suas frentes e se fizeram fortes. Lutaram contra uma imensidão, brigaram com um monstro de muitas cabeças e formas, mas sempre tiveram esperanças. Fizeram armas até de taquara e juntaram um exército esfarrapado.
Às vezes, a disparidade de forças fazia com que brigassem entre si, mas logo redobravam os sentidos e iam em frente. Vencendo uma batalha aqui, outra ali, tendo como estandarte as suas bandeiras rotas, os pés sujos, as testas suadas, os músculos exaustos, os corpos em feridas. Balançaram os palas ao vento, no meio das tropas, quase não dormiram por anos a fio, fizeram os planos mais loucos. E ousaram. E o povo gostou deles e os aplaudiu. Mandaram mensageiros. E tudo lhes dava mais força nessa luta sem-fim que travaram nos confins do Sul e das utopias.
Então chegou o dia em que eles perderam a batalha decisiva. Foi como uma névoa que lhes cobriu os olhos tresnoitados. Suas fisionomias se transformaram em álbuns de memória. Em tudo ficou uma cerração, que gela e entristece. Dignos, recolheram seus mortos, trataram seus feridos, levantaram a bandeira branca e entregaram o território conquistado a duras penas para o inimigo. Pareciam derrotados. Sem mais nem menos, deram um grito uníssono que ribombou pelos campos e pelas cidades.
E, para surpresa geral, começaram a sorrir. Seus semblantes mostravam a cara dos que brigam sempre pela liberdade, daqueles que querem ser livres de forma incondicional, dos que não se conformam. E todos sentiram a vibração daquelas almas, dos espíritos que não queriam calar. Tinham umas caras boas e claras. Não, ali não estava o fim.
Ali estava só o começo...
Agora, todos os respeitam, os que foram loucos um dia, aqueles que brigaram pela terra e pelos direitos, os que carregaram nos braços os parceiros ensanguentados. Todos sabiam que tinham lutado, o mundo os temia porque tinham o dom de se multiplicar. Eles voltam sempre, porque, se morrem, ressuscitam todos os dias em nossos corações.
Regalo foto: Nelson Jungbluth
Regalo publicação: jornal Correio do Povo
Eram poucos, uma meia dúzia. Uns se conheciam, outros foram chegando e se conhecendo em meio ao tumulto dos dias que se seguiram. Era um tropel, era bala que zunia, era ferro que batia contra ferro, eram ideias, sementes e sonhos, quase como lanças, quase como espadas, aço contra aço que se cruzavam nos entreveros. Foram dias multicores, manhãs de primavera. Seus espíritos transbordavam de chamas como o fogo de chão nos galpões grandes nas estâncias da alma. Assim, formaram uma trupe e fizeram as escaramuças, conquistaram cidades, combateram o inimigo em todas as suas frentes e se fizeram fortes. Lutaram contra uma imensidão, brigaram com um monstro de muitas cabeças e formas, mas sempre tiveram esperanças. Fizeram armas até de taquara e juntaram um exército esfarrapado.
Às vezes, a disparidade de forças fazia com que brigassem entre si, mas logo redobravam os sentidos e iam em frente. Vencendo uma batalha aqui, outra ali, tendo como estandarte as suas bandeiras rotas, os pés sujos, as testas suadas, os músculos exaustos, os corpos em feridas. Balançaram os palas ao vento, no meio das tropas, quase não dormiram por anos a fio, fizeram os planos mais loucos. E ousaram. E o povo gostou deles e os aplaudiu. Mandaram mensageiros. E tudo lhes dava mais força nessa luta sem-fim que travaram nos confins do Sul e das utopias.
Então chegou o dia em que eles perderam a batalha decisiva. Foi como uma névoa que lhes cobriu os olhos tresnoitados. Suas fisionomias se transformaram em álbuns de memória. Em tudo ficou uma cerração, que gela e entristece. Dignos, recolheram seus mortos, trataram seus feridos, levantaram a bandeira branca e entregaram o território conquistado a duras penas para o inimigo. Pareciam derrotados. Sem mais nem menos, deram um grito uníssono que ribombou pelos campos e pelas cidades.
E, para surpresa geral, começaram a sorrir. Seus semblantes mostravam a cara dos que brigam sempre pela liberdade, daqueles que querem ser livres de forma incondicional, dos que não se conformam. E todos sentiram a vibração daquelas almas, dos espíritos que não queriam calar. Tinham umas caras boas e claras. Não, ali não estava o fim.
Ali estava só o começo...
Agora, todos os respeitam, os que foram loucos um dia, aqueles que brigaram pela terra e pelos direitos, os que carregaram nos braços os parceiros ensanguentados. Todos sabiam que tinham lutado, o mundo os temia porque tinham o dom de se multiplicar. Eles voltam sempre, porque, se morrem, ressuscitam todos os dias em nossos corações.
Regalo foto: Nelson Jungbluth
Regalo publicação: jornal Correio do Povo
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