sexta-feira, 30 de setembro de 2011

É HOJE !!!!!!!! - 17ª Seara da Canção Gaúcha em Carazinho



INDIADA, Hoje tem show do LEONEL GOMES na 17ª SEARA DA CANÇÃO GAÚCHA em Carazinho.

Certo que estaremos lá! UPAPAPAAAAAAAAAA

Muy buenas tardes
Señoras e señores
La campana....
Un palenque
El reservado
Y haciendo un costado
Dos cernos apadrinhadores

El ginete a montar
Es de los pagos del Rio Grande
Con su bombachita corta
La bueina bien p´al costado
Y en los talón atado
Dos trin trin de las espuelas.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O porque que AJUDO ANIMAIS tendo TANTA GENTE PRECISANDO...

Como surgiu a expressão Tchê!



Baita texto enviado pelo baita parceiro Marcos Antônio Bergamin, que na minha opinião é um dos melhores narradores de rodeio do Rio Grande.

Baita abraço TCHÊ!

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Há quem goze de nosso uso do termo “TCHÊ”, ache até chulo-grosseiro este linguajar. Se soubessem a sua origem, aí abaixo relatada, talvez mudassem sua opinião. 

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Como surgiu a expressão Tchê! 

Sotaques e regionalismos na hora de falar são conhecidos desde os tempos de Jesus. Todos na casa do sumo sacerdote reconheceram Pedro como discípulo de Jesus pelo seu jeito "Galileu" de se expressar.

No Brasil também existem muitos regionalismos. Quem já não ouviu um gaúcho dizer: "Barbaridade, Tchê"? Ou de modo mais abreviado "bah, Tchê"?

Essa expressão, própria dos irmãos do sul, tem um significado muito curioso.

Para conhecê-lo, é preciso falar um pouquinho do espanhol, dos quais os gaúchos herdaram seu "Tchê".

Há muitos anos, antes da descoberta do Brasil, o latim marcava acentuada presença nas línguas européias como o francês, espanhol e o português. Além disso o fervor religioso era muito grande entre a população mais simples.

Por essa razão, a linguagem falada no dia, era dominada por expressões religiosas como: "vá com Deus", "queira Deus que isso aconteça", "juro pelo céu que estou falando a verdade" e assim por diante.

Uma forma comum das pessoas se referirem a outra era usando interjeições também religiosas como: "Ô criatura de Deus, por que você fez isso"? Ou "menino do céu, onde você pensa que vai"? Muita gente especialmente no interior ainda fala desse jeito.

Os espanhóis preferiam abreviar algumas dessas interjeições e, ao invés de exclamar "gente do céu", falavam apenas Che! (se lê Tchê) que era uma abreviatura da palavra caelestis (se lê tchelestis) e significa do céu. Eles usavam essa expressão para expressar espanto, admiração, susto. Era talvez uma forma de apelar a Deus na hora do sufoco. Mas também serviam dela para chamar pessoas ou animais.

Com a descoberta da América, os espanhóis trouxeram essa expressão para as colônias latino-americanas. Aí os Gaúchos, que eram vizinhos dos argentinos e uruguaios acabaram importando para a sua forma de falar.

Portanto exclamar "Tchê" ao se referir a alguém significa considerá-lo alguém "do céu". Que bom seria se todos nos tratássemos assim. Considerando uns aos outros como gente do céu.

Um abraço, Tchê!

Regalo FOTO: macumbanaacademia.blogspot.com

Rodeio NACIONAL de São Marcos / RS - 08 a 11/12/2011



POEMA: "Resultado"

por Pedro Du Bois

Certos jogos gritam resultados
trancados em gargantas
afogadas em líquidos

reaparecem em esbirros
espirros
no acordo
desacordado em regras:

ao vencedor
cabe o barulho
infernal do nada
quantificado no instante.

Depois a vida segue o trajeto
previamente decorado: ao vencedor
resta a tênue lembrança
do que esquece


Regalo: pedrodubois.blogspot.com

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Eduardo Rocha - CAVALGADA DOS EXTREMOS

Acesse também: www.eduardorocha.fot.br ou www.eduardorocha.fot.br/blog

Churrasco da Semana Farroupilha


por Rafael Kohanoski Ribeiro

Foi no 20 de setembro que vi o quanto representa a nossa tradição ao povo Santanense, em especial, ao CTG Jaime Caetano Braun. O CTG que leva o nome de um dos mais admirados ícones da história da cultura gaúcha, "O Pajador", poeta, compositor e um baita homem Jaime Caetano Braun, nascido em 30 de janeiro de 1924 na Bossoroca, na época distrito de São Luiz Gonzaga, e teve por fim da sua tão consagrada vida o dia 8 de julho de 1999 na capital do Rio Grande.

O CTG foi fundado no dia 30 de julho de 1999 com o principal objetivo de enaltecer o culto as tradições gaúchas, buscando desenvolver projetos sócio-cívico-culturais e tem como lema "União e Lealdade". E a união dos índios e das prendas deste CTG fazem com que o trabalho deles seja conhecido e reconhecido nos quatro cantos do Rio Grande, a paixão com que vimos os componentes do CTG servindo as pessoas que lá estavam no 20 de setembro, e em todos dias da Semana Farroupilha merece simplesmente o nosso PARABÉNS!!!

Na noite do 19 de setembro, simplesmente foram servidos mais de 700 jantares, um mexido de carne de ovelha de come de joelhos, antes de começa o arrasta-pé do Arrastapé (Grupo de música tradicionalista www.arrastapé.com.br ). Naquela ocasião podemos presenciar a preocupação da entidade no bem servir, e na proposta de plantar no coração dos jovens a semente do tradicionalismo, pois vimos as apresentações magníficas das Invernadas Artítiscas Mirim e Juvenil do CTG cultuando em forma de dança as nossas tradições.

No feriado do 20 de setembro, após fazer um desfile impecável com mais de 680 cavaleiros no maior Desfile Tradicionalista do mundo, a patronagem e seus colaboradores receberam na sua sede cerca de 1.300 pessoas, isso mesmo, 1.300 pessoas para confraternizar o churrasco do 20 de setembro.

Foram assados 680 kg de costela bovina pelos assadores Geci, Fabiano, Xisto Ernesto, Sérgio Reinaldo e o Davi, estes homens começaram a se mexer por volta das 6 horas da manhã para que estivesse tudo dentro dos conformes ao meio dia para receber todo esse público.

Fomos recebidos pelo Patrão da entidade, o Sr. Dilmair Ceolin, uma pessoa de simplicidade invejável e de um carisma por parte de todos que lá estavam que merece nosso reconhecimento de dizer que este sim é um verdadeiro GAÚCHO, por que estas são as verdadeiras qualidades do homem do Rio Grande.

Nos foi apresentado também à pessoa do Sr. Mauro Silva, caseiro da entidade e um dos fundadores do CTG, outra pessoa de qualidades simples e maduras.

As prendas, ahhh....as prendas, jovens de beleza ímpar e possuidoras de um brilho nos olhos que nos deixa certos de que as nossas tradições serão muito bem levadas ao futuro e o encontro de novas gerações para perpetuação do orgulho Farroupilha.

E o churrasco?? Bahhh...especial de primeira uma carne assada ao ponto de não sobra nem pro's cusco.

Bueno, para dar fim ao papo, fica a imagem que nunca mais vai sair da minha lembrança, a imagem da minha filha ao meu lado, tropeando tudo isso para trazer a vocês um pouco do que é este mundo, o nosso mundo do Tradicionalsmo Gaúcho. Vê-la ali ao meu lado, tipicamente vestida, e não por imposição, mas por amor verdadeiro e puro de uma criança pelo momento vivido naqueles dias, me faz pensar que esse amor e orgulho pela nossa história é incomparável a qualquer outro tipo de movimento ou culto que exista na Terra. E vocês sabem o que é mais interessante? Que no caso da Minha Prenda, a Cecília, ela é nascida em Santa Catarina, assim como tantos outros Catarinenses, Mato Grossenses, Cearenses, Americanos, Belgas, Franceses, Japoneses, que assim que conhecem a cultura do Nosso Povo Farrapo apenas... se apaixonam.

Santana do Livramento - Terra Farrapa
20 de setembro de 2011


Regalo: assadorgaucho.blogspot.com

NÃO FROXEMO O GARRÃO!!!!!!!!!!!


Baita prosa enviada pela parceira Patricia Bergamin.


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NÃO  FROXEMO  O  GARRÃO!!!!!!!!!!!

Durante o acampamento da Semana Farroupilha no Parque Harmonia, as principais lideranças do Estado do Rio Grande do Sul resolveram retomar a Revolução Farroupilha e enviaram uma mensagem a Brasília:

- "Cambada de frouxos: Estamos declarando guerra novamente para separar o Rio Grande do resto! Temos 85 mil Cavalos e 200 mil Homens Farroupilhas".

Brasília então responde:

"Aceitamos a declaração. O Exército brasileiro tem 380 tanques, 160 aviões, 98 navios e 2 milhões de soldados."

Após dois longos dias de intensa discussão, entre um chimarão e outro, a Gauchada responde:
- "Retiramos a declaração de guerra... Não temos como alojar tantos prisioneiros". 

Mazaaá índio velho!!!

sábado, 24 de setembro de 2011

CAVALOS



Ótimo motivo para iniciar bem meu final de semana.

Hoje abri minha caixa de emails e estava lá: ASSUNTO: "notícias". Quando iria deletar achando ser vírus vi que se tratava de um e-mail da amigaça Tânia Du Bois.

Sinceramente, eu estava com muita saudades da Tânia, colaboradora fundamental aqui do Na Hora do Amargo, onde, através de seus textos literários com ampla pesquisa e muito bem fundamentados, consegue de uma forma diferenciada exaltar a cultura de nosso estado.

Gracias Tânia pela colaboração.

Baita abraço.

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Caro Fernando,
espero que esteja tudo bem com você.
Uma colaboração para a Hora do Amargo.
Abraços,
Tânia
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CAVALOS
por Tânia Du Bois

“Se o olhar visse cavalos: / estar agora sob as crinas: /
estar acordado quando vê-los...” (Fernando J. Karl)

Ao passar por túneis que cruzam o tempo e guardam a parte das tradições é sempre interessante conhecer, lembrar e reler a história, com seus grandes momentos, como encontramos na obra O massacre dos Porongos & Outras Histórias Gaúchas, de Paulo Monteiro, onde rememora a história do Rio Grande do Sul, a formação daquele Estado, o povo e a cultura gaúcha. Ele trata do tema como riqueza cultural na busca pela verdade.

Voltando ao cavalo, ele é a insondável paisagem do campo. Seus movimentos parecem anunciar os atos de bravuras, que se fundem com a poesia e surpreendem no encantamento de seu galope, como encontramos em livro de Luiz Coronel, com ilustrações e capa de Paulo Porcella, ”Os Cavalos do Tempo/ galopam pelas colinas. / Trazem a manhã no lombo / e a cerração nas narinas...”

Cavalos representam o tempo de mudanças e, sem destruir o sólido espírito vitoriano, ainda predomina em terras rio-grandenses, fazendo parte da paisagem. Também, constituem outro passo da luta que vem da Independência para libertar e alegrar boa parte do povo.

“Sobre o toso do meu cavalo / tenho a visão de um mundo / onde sou completa, /
livre e sem qualquer preconceito. / simplesmente feliz!!” (Raquel B. Pires)

O tema cavalos gera palavras e sentidos, opiniões em termos literários. A grande preocupação dos escritores é revelar e desnudar a beleza do cavalo, juntamente com sua utilidade e tradições, desencadeando um processo de caracterização na história literária.

Armindo Trevisan, considerado referência na poesia gaúcha, escreveu, “... Teu cavalo é sonho do povo / que devasta flores, / e rola de olho em olho / pelos abismos do medo...”; Jorge de Lima, revela, “Era uma cavalo todo feito em lavas / recoberto de brasas e de espinhos. / Pelas tardes amenas ele vinha...”; e, Murilo Mendes completa, “Pela grande campina deserta passam os cavalos a galope. / Aonde vão eles?.../ São os restos de uma antiga raça companheira do homem / ...os cavalos fecham a curva do horizonte, / Despertando clarins na manhã.”

Escritores empenhados em desvelar o importante papel dos cavalos, no sentido de reviver parte da história como desafio, ostentam a motivação, a paixão por novos encontros, com a possibilidade da conquista, como encontramos no livro  Cavalos e Obeliscos, de Moacyr Scliar, onde conta as aventuras de um adolescente em cidade da campanha sul-rio-grandense.

Cavalos chamam a nossa atenção pela força e beleza, refletindo nas artes de escrever, de ler, de contar e de pintar. Nas palavras de Raquel B. Pires, ”Passei por tantas estâncias / Cada qual mais aprendi / Vi velhos contarem sonhos / Que estranhamente vivi / Todos eles partes da história / Que nem mesmo conheci...”

mas que lástima...


Gauchada, 4 provas já se foram, faltam só mais 7.


Segunda, duas provas!


Final de semana de seletiva regional em Nova Bassano e de rodeio GRAUDO aqui em Passo Fundo e eu aqui no apartamento estudando.


MAZÁÁÁ!

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Arnaldo Jabor falando do Rio Grande do Sul...

Indiada, esse texto é de arrepiar qualquer ser honrado que se diga autêntico gaúcho, inclusive meus olhos estão com lágrimas de emoção. Muito lindo!

Sempre fui fã desse loKo.

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por Arnaldo Jabor

"Pois é. O Brasil tem milhões de brasileiros que gastam sua energia distribuindo ressentimentos passivos. Olham o escândalo na televisão e exclamam ‘que horror’. Sabem do roubo do político e falam ‘que vergonha’. Vêem a fila de aposentados ao sol e comentam ‘que absurdo’. Assistem a uma quase pornografia no programa dominical de televisão e dizem ‘que baixaria’. Assustam-se com os ataques dos criminosos e choram ‘que medo’. E pronto! Pois acho que precisamos de uma transição ‘neste país’. Do ressentimento passivo à participação ativa. Pois recentemente estive em Porto Alegre,onde pude apreciar atitudes com as quais não estou acostumado, paulista/paulistano que sou. Um regionalismo que simplesmente não existe na São Paulo que, sendo de todos, não é de ninguém. No Rio Grande do Sul, palestrando num evento do Sindirádio, uma surpresa. Abriram com o Hino Nacional. Todos em pé, cantando. Em seguida, o apresentador anunciou o Hino do Estado do Rio Grande do Sul. Fiquei curioso. Como seria o hino? Começa a tocar e, para minha surpresa,todo mundo cantando a letra! ‘Como a aurora precursora do farol da divindade, foi o vinte de setembro o precursor da liberdade’. Em seguida um casal, sentado do meu lado, prepara um chimarrão. Com garrafa de água quente e tudo. E oferece aos que estão em volta. Durante o evento, a cuia passa de mão em mão, até para mim eles oferecem. E eu fico pasmo. Todos colocando a boca na bomba, mesmo pessoas que não se conhecem. Aquilo cria um espírito de comunidade ao qual eu, paulista,não estou acostumado. Desde que saí de Bauru,nos anos setenta, não sei mais o que é ‘comunidade’. Fiquei imaginando quem é que sabe cantar o hino de São Paulo. Aliás, você sabia que São Paulo tem hino? Pois é… Foi então que me deu um estalo. Sabe como é que os ‘ressentimentos passivos’ se transformarão em participação ativa? De onde virá o grito de ‘basta’ contra os escândalos, a corrupção e o deboche que tomaram conta do Brasil? De São Paulo é que não será. Esse grito exige consciência coletiva,algo que há muito não existe em São Paulo. Os paulistas perderam a capacidade de mobilização. Não têm mais interesse por sair às ruas contra a corrupção. São Paulo é um grande campo de refugiados,sem personalidade, sem cultura própria, sem ‘liga’. Cada um por si e o todo que se dane. E isso é até compreensível numa cidade com 12 milhões de habitantes. Penso que o grito – se vier – só poderá partir das comunidades que ainda têm essa ‘liga’. A mesma que eu vi em Porto Alegre. Algo me diz que mais uma vez os gaúchos é que levantarão a bandeira. Que buscarão em suas raízes a indignação que não se encontra mais em São Paulo. Que venham, pois. Com orgulho me juntarei a eles. De minha parte, eu acrescentaria, ainda: ‘…Sirvam nossas façanhas, de modelo a toda terra…"

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

REVOLUÇÃO FARROUPILHA: Separatismo ou República?

Texto simplesmente espetacular, com fundamentos jurídicos e históricos correspondentes aos fatos narrados, demonstrando que quanto a guerra dos Farrapos, sua finalidade principal não foi lutar a favor do separatismo, mas sim contra a centralização  política e tirana do império da época.

Apesar do texto ser um tanto extenso, recomendo a leitura completa para melhores esclarecimentos.

Baita abraço.

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por Rodinei Candeia
Procurador do Estado, Professor e Palestrante de Direito Público e Tributário.

A Revolução Farroupilha, comemorada no dia 20 de setembro, está para o Estado do Rio Grande do Sul como a Revolução Americana para os Estados Unidos, a Revolução Francesa para a França, a Inconfidência Mineira para Minas Gerais, Revolução Liberal de São Paulo (1842), a Sabinada da Bahia (1837) e o movimento de Libertação da América encabeçado por Simón Bolívar e San Martin. Trata-se de um marco de conscientização filosófica e política do povo gaúcho.

Esses momentos históricos foram a concretização das grandes discussões éticas e dos ideais políticos dos povos.

Porém, anteriormente às revoluções populares, foi necessário ambiente para o desenvolvimento dessas ideias e preparação dos homens que as lideraram. Serviram de palco para isso as academias, as sociedades científicas e algumas sociedades secretas criadas especificamente para esse fim, principalmente pela Maçonaria1 , onde era possível a livre manifestação do pensamento. Nesses ambientes fortaleceu-se a ideia dos direitos humanos e os princípios da sociedade humana ocidental, como a liberdade, a fraternidade e a igualdade.

Hoje é possível o exercício do livre pensar e manifestar em ambientes públicos, como escolas, partidos políticos, imprensa, parecendo sem importância o papel de tais sociedades de exercício filosófico e de proteção das liberdades públicas. Porém, basta que se retroceda não há dois ou três séculos, mas há 30 anos na história brasileira, para que se compreenda que, em plena ditadura militar, tal não era possível. O mesmo aconteceu em inúmeros países e ainda hoje ocorre na África, no Oriente Médio, na Ásia e, em menor grau, na América Latina, onde a liberdade de expressão vem sendo atacada de forma violenta, assim como o direito de livre associação. Sem aquelas organizações, que visavam o progresso dos povos, provavelmente a história humana tivesse outros contornos.

Especificamente em relação à Revolução Farroupilha, não há dúvida de que essa se confunde com a história do Rio Grande do Sul, sua cultura e características do povo, politizado e desenvolvido culturalmente.

A Revolução Farroupilha formou o perfil do povo gaúcho, firmando nos espíritos dos cidadãos os princípios da liberdade, do federalismo e do respeito aos direitos humanos, previstos no Projeto de Constituição da República Riograndense8  de 1842 e só recentemente consolidados na Constituição Federal.

Foi um verdadeiro “surto ideológico, onde seus líderes se propuseram ao sacrifício da própria vida em nome da pátria e de seus compatriotas.

Porém, nunca quiseram os farroupilhas a separação do Brasil, como comumente se tenta fazer crer, mas intuitivamente é negado nos desfiles, onde as bandeiras do Brasil e do Rio Grande do Sul andam lado a lado.

Primeiro, porque a maioria dos líderes era de outros Estados, principalmente do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Depois, pode-se verificar a intenção contrária aos separatismo nos documentos oficiais da época, como se permite transcrever:

Da Câmara Municipal de Piratini, aderindo à República Riograndense em 6 de novembro de 1836:

“Que a nova nação tinha que ligar-se pelos laços da federaçào àquelas das Províncias do Brasil que adotassem o mesmo sistema de govêrno.”

De Bento Gonçalves, no Manifesto de 29 de Agosto de 1838:

“Perdidas, pois, as esperanças de concluirem com o Govêrno de S. M. Imperial huma conciliçaó fundada nos principios da Justiça Universal, os Riograndenses, reunidos às suas Municipalidades, solemnenmente proclamaraó e juraraó a sua Independencia Politica, debaixo dos auspicios do Systema Republicano, dispostos, todavia, a federarem-se quando nisso acordem, às Provincias Irmás, que venhaó a adoptar o mesmo systema.

De Bento Gonçalves, na abertura da assembléia constituinte em 1º de dezembro de 1842, portanto, 47 anos antes da implantação da República Federal no Brasil:

“Muito doloroso me é o ter de manifestar-vos, que o governo Imperial, surdo à voz da humanidade, e com escandaloso desprêzo dos mais sãos princípios da ciência do direito, nutre ainda a pertinaz pretensão de reduzir-nos pela fôrça, e porém meu profundo pesar se diminui com a grata recordação, de que a tirania acintosa exercida por êle nas provindicas tem despertado o inato brio dos brasileiros, que já fizeram retumbar o grito de resistência em alguns pontos do Império.

É assim, que seu poder se debilita, e se aproxima o dia, em que, banida a realeza da terra de Santa Cruz, nos havemos de reunir para estreitar laços federais à magnânima nação brasileira, a cujo grêmio nos chama a natureza e nossos mais caros interêsses.”2 

Do deputado José Mariano de Matos, respondendo à “fala” do presidente da República em 17 de Janeiro de 1843:

“A Assembléia, penetrada da mais acerba dor, observa a injustiça, e tenacidade, com que o Governo Imperial do Brasil pretende reduzir-nos pela força, mas confiada na Divina Providência, na santidade de nossa causa, na intrepidez, e constância do Exercito Riograndense, espera que, alfim, triunfem nossos principios: quiça raie, entaó, hum dia de gloria, em que possa verificar-se a lisongeira idéa de nossa uniaó à grande família Brasileira pelos laços da mais estreita federaçaó.”

De Bento Gonçalves3 , em proclamação de 11 de março de 1843:

“Huma republica federal baseada em solidos principios de justiça, e reciproca conveniencia, uniria hoje todas as Provincias irmás, tornando mais forte e respeitavel a Nação Brasileira, se o interesse individual, e se a traiçaó não violentasse o espirito publico.”

O que se combatia não era o Brasil, mas a centralização política, estabelecendo-se na Constituição de 1842 a autonomia administrativa como valor estrutural, como se vê no art. 1º:

“Art. 1º – A Republica do Rio Grande é a associação politica de todos os cidadãos riograndenses. Elles formam uma nação livre e independente, que não admite com qualquer outro laço algum de união, ou federação, que se opponha à independencia de seu regimen interno.4 

Mesmo após a proclamação da República do Brasil, em 1889, a autonomia do estado foi elencada como valor inafastável, só sujeita aos limites da Constituição Federal, como consta da Constituição do Estado de 1891:

“Art. 1º – O Estado do Rio Grande do Sul, como um dos membros componentes da União Federal Brasileira, constitui-se sob o regime republicano, no livre exercício da sua autonomia, sem outras restrições além das que estão expressamente estatuídas na Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil.”5 

Além dessas manifestações oficiais, como prova da luta dos riograndenses contra a tirania imperial e não contra a nação brasileira, bem como do seu espírito federalista6 , nunca é demais lembrar a resposta dada por David Canabarro à proposta de fornecimento de soldados, armas e dinheiro feita por Don Juan Manoel Rosas7 :

“Senhor. O primeiro soldado das vossas tropas que atravessar as fronteiras, fornecerá o sangue com que será assignada a paz de Piratiny com os imperiaes. Acima do nosso amôr à República collocamos o nosso brio, a integridade da Patria. Si puzerdes, agora, vossos soldados na fronteira, encontrareis hombro a hombro, os soldados de Piratiny e os soldados do Sr. D. Pedro II.”

O separatismo era uma acusação atribuída a Bento Gonçalves por seus inimigos políticos da época, tendo sido levado a julgamento por isso em 1834 e 1835.

A revolução, em seu aspecto militar, foi derrotada, assinando os farrapos a paz de Ponche Verde em 1845. Mas os líderes militares adversários, BENTO GONÇALVES e DUQUE DE CAXIAS8 , ambos maçons, tinham afinidades e chegaram a um acordo honrado para encerrar a guerra fraticida, sem praticamente estabelecer vencidos e vencedores, sendo dadas aos riograndenses inúmeras concessões, como o direito de nomeação do presidentes da provincia (art.1º), anistia completa (art. 2º), revalidação dos atos praticados durante o governo republicano (arts. 5º e 6º), liberdade dos escravos que lutaram pela República Riograndense (art. 7º) , bem como a integração dos oficiais e soldados ao corpo militar brasileiro (arts. 8º e 9º), no que se originou a Brigada Militar9 

Assim, fica claro que a Revolução Farroupilha nunca foi separatista, como alguns despreparados repetem sem fundamento, mas tinha ideário republicano e federalista, fundamentando-se no estado de Direito10 .

A Revolução dos Farrapos e seus ideais forma histórica, social e culturalmente vencedores, pois a independência política do Brasil, a autonomia dos Estados e a própria forma federativa do Estado Brasileiro foram fortemente influenciadas por essa Guerra, que teve a ousadia de enfrentar um império inteiro pela liberdade dos homens, o que marcou o caráter do povo do Rio Grande do Sul para todo o sempre.


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Notas de rodapé:

1 A literatura histórica oficial registra que em 1831 o Grande Oriente do Rio de Janeiro promoveu a abertura de inúmeras lojas maçônicas no Rio Grande do Sul, a fim de desenvolver o pensamento liberal e preparar os “espíritos pra tremendos choques”. Dessas lojas fizeram parte BENTO GONÇALVES DA SILVA, DOMINGOS JOSÉ DE ALMEIDA, JOSÉ MARIANO MATO, PEDRO BOTICÁRIO, VICENTE DA FONTOURA, PAULINO DA FONTOURA, GOMES JARDIM, ANTONIO DE SOUZA NETO e outros líderes, como registrou FRANCISCO DE SÁ BRITO, político e jurista da época (in Memória da Guerra dos Farrapos, ed. Gráfica e Ed. Souza; RJ:1950, p. 41. Paulino Jaques, na introdução biográfica da obra afirmou: “O Grande Oriente do Rio de Janeiro chamara a si o encargo de propagar aos quatro cantos do Brasil a organização de uma República Federal. Semeara lojas por toda parte, sobretudo, na Província de S. Pedro, cuja posição geográfica favorecia a pregação doutrinária. Daí as “sociedades secretas” com seus órgãos de publicidade. Entre aquelas figuravam a “Sociedade dos Continentinos”, com sede em Pôrto Alegre, a “Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional”, em Rio Grande; a do “Teatrinnho”, em Pelotas, e a do “Vigilante”, em Rio Pardo.” Para combater o ideário liberal, foram criadas as Sociedades Militares.
Segundo registros históricos, Simón Bolivar ingressou na Maçonaria na França em 1805, sendo amigo do cientista Alexander Von Humboldt e do botânico Aimé Bonplant (que morou em São Borja), verdadeiros heróis e celebridades da época. Eram anti-escravagistas convictos, em função de suas experiências na América Latina.

2 Constituições do Estado do Rio Grande do Sul. Porto Alegre: Procuradoria-Geral do Estado, Instituto de Informática Jurídica, 1990, p. 15.

3 Tau Golin, recente pesquisador adotante da linha revisionista e aniquiladora de heróis da pátria, insinua ter sido Bento Gonçalves um ladrão e a revolução farroupilha um luta de estancieiros. Tal análise preconceituosa passa ao largo do compromisso humano e ético do líder da revolta, dos princípios sobre os quais se fundava o movimento, da acirrada discussão social que havia sobre a matéria, bem como desconsidera o fato de Bento Gonçalves ter entrado para a revolução com consideráveis bens e ter dela saído paupérrimo, recorrendo a um empréstimo de cem reses para recomeçar a vida econômica.

4 Constituições, 19.

5 Constituições, 49.

6 O saudoso Ex-Secretário da Receita Federal, Dr. OSIRIS LOPES FILHO, afirmou em um congresso de direito tributário que o “desejo da tecnocracia brasiliense expresso nesse projeto de reforma constitucional é realmente tornar o Brasil um Estado unitário. É um grande equívoco, acho que histórico – e alguns professores de História foram responsáveis por isso -, é que sempre há uma insinuação de que a Federação Brasileira foi criação sábia e no fundo cópia que Rui Barbosa fez da Federação Americana. Ora, quem examinar as lutas durante o império, Balaiada, Sabinada, Confederação do Equador, Revolução Farroupilha, vai ver que sempre houve derramamento de sangue no Brasil para a descentralização do poder político e financeiro. E, quando vem a primeira Constituição Republicana, vem concomitantemente a estrutura de Federação, que só realmente foi afirmada num pacto financeiro nessa Constituição de 88; ...Num país com a pujança do Brasil, as desigualdades e o tamanho fantástico, imaginar que o Estado não possa decidir qual é a sua alíquota adequada para produtos essenciais e ter uma alíquota por produto a nível nacional, isso ataca a racionalidade da tributação... ao Estado vai competir só a tarefa de fiscalizar e arrecadar, ele não tem mais vontade política de formulação do ICMS se for aprovada essa emenda”.

7 Militar Argentino, Governador de Buenos Aires e posteriormente da Confederação Argentina.

8  David Canabarro celebra CAXIAS, como se vê em sua proclamação que anunciava o fim da Guerra dos Farrapos. O texto tem a data de 28 de fevereiro de 1845:
"Concidadãos! Competentemente autorizado pelo magistrado civil a quem obedecíamos e na qualidade de comandante-em-chefe, concordando com a unânime vontade de todos os oficiais da força de meu comando, vos declaro que a guerra civil que há mais de nove anos devasta esse belo país está acabada.
Concidadãos! Ao desprender-me do grau que me havia confiado o poder que dirigia a revolução, cumpre-me assegurar-vos que podeis volver tranqüilos ao seio de vossas famílias. Vossa segurança individual e vossa propriedade estão garantidas pela palavra sagrada do monarca e o apreço de vossas virtudes confiado ao seu magnânimo coração. União, fraternidade, respeito às leis e eterna gratidão ao ínclito presidente da Província, o ilustríssimo e excelentíssimo barão de Caxias, pelos afanosos esforços na pacificação da Província". Fonte Fonte Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Poncho_Verde 

8 O Uruguai reconheceu a República Riograndense como nação independente, tendo firmado tratados com os Riograndenses, como o Acordo de dezembro de 1841 de mútuo auxílio militar feito entre o presidente  Rivera   do Uruguai e o presidente da República Rio-Grandense Bento Gonçalves :
 S.Ex. o sr. presidente da república Riograndense prestará a S.E. o sr. presidente da república Oriental do Uruguái un auxilio de 400 homens de infantería e 200 de cavaleria, todos de linha, para invadirem e ocuparem a provincia de Entre Ríos, depondo sua actual ominosa administração, cujas tropas armadas e equipadas obedeceram, durante a campanha, ás ordens de S. Excia. o sr. presidente da mencionada republica Oriental do Uruguái.[3] 
Também o Pacto ou Protocolo de Paysandu entre as Províncias Independentes do Norte Argentino e a República Riograndense reconhecida como tal, assinado em 14 de outubro  de 1842  entre José María Paz , ex-governador de Córdoba e vencedor na Província Independente de Entre Ríos; Juan Pablo López , governador da Província Independente de Santa Fe; Pedro Ferré , governador da Província Independente de Corrientes; e Bento Gonçalves , presidente da República Riograndense, em uma coalizão contra Rosas . (Wikipedia: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tratado_de_Poncho_Verde )

9 Lamentavelmente, o Império não cumpriu o tratado, não permitindo a nomeação do Presidente; não ressarcindo as dívidas de Guerra; deixando de libertar todos os escravos, por temor de repercussão no restante do país. Também não perdou as dívidas.

10 Os Centros de Tradição Gaúcha, os Piquetes de cavalarianos e demais entidades culturais gaúchas foram se reduzindo à repetição e idolatria das atividades campeiras e artísticas dos gaúchos, esquecendo os valores pelos quais lutavam os riograndenses na Revolução Farroupilha, como a forma republicana e a repartição das funções do Estado, que implica a sujeição de todos à lei, princípios tão atuais e necessários.

Regalo: http://rodineicandeia.blogspot.com

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Que nossa história a gente aceite, seja ela qual for. Sem enfeite. Sem flor.


Guerra dos Farrapos - a navegada em busca da paz

Certo que grande parte da indiada que irá ler esta postagem ficará no mínimo desconfiada, porém, o Na Hora do Amargo conforme todos já sabem é um blog democrático e prioriza a liberdade de expressão dos viventes, deste modo, admitindo a publicação de qualquer análise sobre o gauchismo "com estudo bem fundamentado".


Eu particularmente lendo o texto, encontrei muitas afirmações em que eu já havia estudado no passado.


Recomento para que tenhamos também uma cabeça aberta, vindo a nos questionarmos quanto a realidade de alguns fatos impostos a nós pela mídia, pelo MTG e por alguns tradicionalistas. Penso que se não chagamos nem a um consenso quanto a origem da bombacha (serrana, fronteira, larga, estreita...), então imagina quanto a história rio-grandense.


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por Danilo Chagas Ribeiro

Pensei em aproveitar a oportunidade para mostrar algo sobre a Revolução Farroupilha, mais comemorada no Rio Grande do Sul do que a Semana da Pátria. Mas fiquei espantado quando vi os parcos resultados deste mega-entrevero ocorrido há 170 anos. Aprofundei os estudos e compreendi que não era bem o que eu havia aprendido até então.

Guerra dos Farrapos em um parágrafo
O Rio Grande do Sul sentia-se desprestigiado pelo Império. Segundo o professor historiador Dr. Moacyr Flores, a luta ocorreu "por idéias liberais, como acontecia em todo mundo, isto é, a não intervenção do Estado na economia, o controle do poder Executivo pelo Legislativo a fim de evitar o absolutismo, por uma nova Constituição de acordo com os costumes e pela federação.". Em outro plano, a então província sofria a concorrência econômica dos países do Prata e pleiteava a redução do imposto sobre o charque produzido no RGS, do imposto sobre o sal importado, e do imposto territorial sobre as estâncias. Como o Império não atendia os apelos, foi declarada a guerra. Na melhor das hipóteses eram menos de 5.000 Farrapos na população de 400.000 gaúchos. Não tinham recursos e lutaram arduamente. Proclamaram a República Sul-riograndense, isto é, declararam-se independentes do Brasil. Dez anos depois, exauridos, fizeram as pazes com o Império sem terem obtido o que reivindicavam.

Ganhos
Apesar da Guerra dos Farrapos ser motivo de muito orgulho do povo gaúcho, o ganho efetivamente obtido, ou as "conquistas", restringiram-se aos assuntos da guerra propriamente dita1, como a alforria aos escravos que participaram da peleia, se bem que não foi bem assim2. Segundo informou também o Dr. Moacyr Flores ao Popa.com.br, "os negros foram traídos em Porongos porque Caxias tinha ordens de não lhes conceder anistia. Levaram os negros capturados em Porongos e os que foram entregues pelos Farrapos para a fazenda de Santa Cruz e para o Arsenal no Rio de Janeiro".

Negando o estribo
Os Farrapos chegaram ao ponto de negar a anistia oferecida por D. Pedro II, em que pese no fim da guerra não chegavam nem a 2.000 revolucionários. E inda tudo espraiado e esgualepado...

Poupando os Farrapos do pior 
Em 1842 o império contava com 16 batalhões e 12 regimentos de infantaria no RGS, portanto esbanjando superioridade. Em outros levantes no Brasil, os rebeldes foram completamente aniquilados, mas aqui interessava mantê-los vivos.

E por que?

Para que os Farrapos lutassem a favor do Império contra o ditador Rosas, o argentino que havia tomado o Uruguai e ameaçava tomar o Rio Grande do Sul. A opção do Império pela paz, em vez de aniquilar com os Farrapos, tinha portanto segundas intenções.

Contra o buçal imperialista
Foram 10 anos de insurgência, alvoroço, mortes e pobreza, que terminaram em uma rendição em 1.845, e não em acordo de paz, como ainda gabam-se alguns3. No mais, restou do mais longo conflito interno da história do Brasil, a fama da valentia e da resistência da gauderiada contra o buçal imperialista. Foi um posicionamento extremado diante do descontentamento de uma gente aguerrida e difícil de se resignar.

Mesmo sem a vitória almejada, a história conta que o Império passou a ver a Província com outros olhos depois da guerra, o que legitimou os esforços dos Farrapos. Se não pela vitória, pela disposição à peleia contra o cabresto. Mas pelo que se lê e se viu, efetivamente o RGS nunca foi uma província ou um estado muito prestigiado pelo governo federal. Nem mesmo quando os presidentes eram gaúchos.

Navegada ao Rio de Janeiro
Durante a guerra, o farrapo Antonio Vicente da Fontoura, meu penta-avô, escrevia cartas à esposa diariamente. Era uma forma de registrar o que pensava. Seus diários foram publicados em 1934, 90 anos depois. Além do dia-a-dia na campanha, deixou o relato da navegada ao Rio de Janeiro, a bordo de um vapor, representando os Farrapos em busca da paz. A situação era muito ruim. Já faltava o que comer. O Império ofereceu um "vapor" para os Farrapos apresentarem-se à Corte, no Rio de Janeiro. 

Em 28 de Novembro de 1844 Vicente da Fontoura embarcou, em Pelotas, a bordo do vapor Fluminense, de 25HP, comandado por Cunha, ex-prisioneiro de guerra dos Farrapos. Ia com ele o irmão do Barão de Caxias, e uns prisioneiros para trocar no Rio. Por falta de calado, somente no dia 29 chegaram a São José do Norte. "A vila é tão feia que parece mais um estéril presídio de degradados. As ruas pela maior parte atravancadas de areia e outras úmidas em extremo".

Em 2 de Dezembro, Vicente da Fontoura atravessou a "baía de 3 léguas" para chegar ao "Rio Grande do Sul" (Rio Grande). Havia chegado do Rio de Janeiro o vapor Imperador, no qual embarcaria para a Corte.

Em 8 de Dezembro desembarcaram na Cidade do Desterro, em Santa Catarina, entrando pela barra norte. "A cidade é pequena, pouco mais que Rio Pardo, porém é formosa. Apesar de que não tivemos vento à popa, todavia não foi tão contrário que deixássemos de ter uma boa viagem".

Em 10 de Dezembro "em frente à Ilha São Sebastião bordo do paquete vapor Imperador. O vento contrário que trazíamos desde ontem fez o comandante tomar o caminho entre a terra firme e a ilha".

Em 12 de Dezembro chegaram ao Rio de Janeiro. "Apesar de estar ainda com meu pequeno casaquinho de campanha, tenho corrido já uma pequena parte da cidade, está situada entre morros , mas ao que parece é suntuosa e de elegantes edifícios ornada".


Antônio Vicente da Fontoura
Um Gaudério na corte
Apressar o fim da Guerra dos Farrapos interessava ao Império. Mesmo assim, quando meu penta-avô chegou no Rio de Janeiro, ficou indignado com o pouco caso que a corte dispensou a ele. Escreveu Antonio Vicente da Fontoura sobre os "amestrados da corrupção da corte": "Ostentaram uma indiferença ridícula e um orgulho tolo! Estavam reunidos. Nem mais de três artigos das proposições ou bases para a paz eles ouviram porque suas bruscas respostas olvidaram minha natural docilidade e, em tom mais agro, desdobrei verdades a ouvidos não afeitos a ouví-las. 
Que nada podia o governo imperial ceder; que seria manchar o manto imperial e que ao Barão de Caxias haviam autorizado para, por mais três meses, conceder a anistia e que não sabiam como grupos dispersos de rebeldes inda pretendessem do governo tanto quanto era a indiferença com que olhavam sua clemência e que, finalmente, dariam algumas instruções mais ao barão, que em muito pouco mais assentisse, depois porém que os rebeldes depusessem as armas...". (o grifo é nosso)

Mais adiante, Antonio disse: "Do estrangeiro aprenderam só o mau, esquecendo o bom. O luxo que ostentam os empregados públicos não pode manter-se com seus ordenados, inda que duplicados fossem".

Em 18 de Dezembro, Vicente da Fontoura registrou: 
"Queria o Cavalcante, ministro da Marinha, que eu ficasse aqui preso e isto só porque o bati calorosamente na conferência que tivemos ontem à noite, com todos os ministros. Com tais gentes, feita está a reação do absolutismo. Oh Liberdade! Quantos algozes!
Amanhã devemos embarcar no vapor Paranapitanga, de força de 60 cavalos, visto que o Gambá embirrou em não querer que voltemos no vapor em que viemos que é de força de 120 cavalos, de muito melhores cômodos e de mais segurança para atravessar o Oceano, pois no Paranapitanga, com qualquer vento teremos de arribar, tornando mais longa a viagem que se quer fazer com rapidez".

"Rio de Janeiro, 19 de Dezembro de 1844. Depois de termos hoje pelas 4 da tarde embarcado, voltamos à cidade porque o comandante, em razão do vento contrário, só amanhã é que pretende sair. Voltaremos para bordo antes de amanhecer".

21 de Dezembro de 1844. 
"A bordo do vapor Paranapitanga , em frente à Vila Bela da Imperatriz, em S. Sebastião. São 4 horas da tarde e acabamos de fundear e, como o vento está forte, temos que esperar que abrande porque o comandante, além de sua família, traz mais de passagem outra que, além dos maus cômodos do barco, veio mais para flagelar-nos com uma récua de filhos malcriados, uma mãe desmazeladíssima. 
Há pouco veio um velho com a sua canoinha vender-nos uvas, são boas e grandes, e já quando passamos comi pêssegos em Santa Catarina".

24 de Dezembro "Cidade do Desterro, em Santa Catarina. Mais uma arribada, não só por causa do vento, como para meter carvão porque já era pouco. Amanhã prosseguiremos nossa derrota5".

"Norte, 27 de Dezembro de 1844.
São 2 da tarde e poucos momentos há que entramos a barra, vendo com indizível prazer as colinas da pátria". (por pátria referia-se à República Rio-grandense)

2 de Janeiro de 1845, Piratini 
"Eis-me pela primeira vez na capital da República e no momento em que está ocupada pelas armas imperiais!
A 29 do mês passado, pelas 9 da manhã, deixamos o Norte, chegando a Pelotas a bordo do vapor Rio-grandense, pelas 2 da tarde do mesmo dia, e a 30, pelas 6 da tarde, principamos nossa marcha para a campanha, deixando Pelotas".

X

Dessintonia
"O dístico da Porto Alegre Leal e Valorosa vem da Guerra dos Farrapos (o título foi recebido em 1841), sendo Valorosa pela expulsão dos Farrapos e Leal pela opção em continuar brasileira", afirmou o comandante professor historiador Tau Golin ao Popa. Assim, o escudo de Porto Alegre mostra a capital do Rio Grande do Sul contra os Farrapos. Já a bandeira gaúcha mostra-se como da República Rio-grandense (proclamada pelos Farrapos em 1838), e mostra a data do início da Guerra. Enaltece, portanto, a Revolução Farroupilha. 
E as crianças que entendam essa história... Afinal de contas, os Farrapos eram mocinhos ou bandidos?

Pirataria oficial
Corsário é o navegante que ataca embarcações mercantes e apodera-se de sua mercadoria, com o beneplácito do governo. É um pirata oficial. Corsário é também a embarcação usada para este fim, o fim de fazer o corso, isto é, o saque. 
O italiano Giuseppe Garibaldi veio para o Brasil foragido de Gênova, onde havia sido condenado à morte. Ao visitar um amigo na cadeia, em Salvador, conheceu outro prisioneiro, chamado Bento Gonçalves da Silva, presidente da República Rio-grandense, que concedeu-lhe uma carta de corso, isto é, nomeou-lhe corsário. Do que Garibaldi pirateasse, um quarto seria dos Farrapos, e o resto dele e de sua tripulação, conta o historiador Moacyr Flores.

 Saque, rapto, fuga
De saída, Garibaldi atacou uma embarcação com café, escravos e passageiros. Com tripulação escassa, afundou seu próprio barco e levou a embarcação saqueada ao Uruguai, onde vendeu a mercadoria. Acabou perseguido por uma lancha uruguaia e foi-se à Argentina, subindo o Prata, em meio a uma tempestade. Lá foi preso. Depois, veio para a fazenda da irmã de Bento Gonçalves, no Rio Camaquã, e junto com John Griggs, mercenário americano que construiu dois lanchões (desenho ao lado), atacou Laguna onde raptou a mulher de um sapateiro. Combatido pelos imperialistas, fugiu ao RGS, e "pediu as contas" aos Farrapos, alegando que não tinha mais barco para o corso e que não era dado à lida da campanha. E assim se foi à Europa levando a lagunense raptada. Lá continuou lutando por dinheiro.

Fabricando um mito
Garibaldi foi mitificado pelo romancista francês Alexandre Dumas que escreveu suas memórias em 1860, e despachou-as para Pelotas. Lá se lê, por exemplo, que Garibaldi, de seu camarote, apaixonou-se à primeira vista por Anita, ainda virgem, vendo-a trabalhar em sua casa na lida doméstica. Quando viu a moça, disse-lhe: "Virgem, pertences-me!" (Dumas, p. 94). Na verdade, Anita era casada há mais de 5 anos. Nestes termos, imagino que faltou dizer que o Negrinho do Pastoreio foi o cupido. 
Este é o resumo da história contada pelo Doutor Moacyr Flores, em série de cinco capítulos. É uma obra prima.

A quem interessa fabricar heróis?

História x Folclore
O folclore nutre-se legitimamente de lendas e de crenças, mas a história não pode ser infiltrada por interesses tradicionalistas. Observa-se esforço secular fomentado pela cultura regional, para dotar a história gaúcha de conotações de bravura e de mérito à insurgência, tendo os Farrapos por exemplo.

É louvável lutar pelo que se acredita em vez de resignar-se facilmente, mas parece haver constante tentativa de idealização de personagens do passado, em benefício da religiosidade cultural. Resta desse engessamento a forte identidade cultural dos gaúchos, que permitiu implantar seus Centros de Tradição Gaúcha até mesmo no exterior.

Que a história verdadeira da Revolução Farroupilha seja contada. Se perdemos a guerra, que sirva-nos de exemplo. E se com ela ganhamos reputação, pois que seja então explorada em nosso benefício, e não apenas exaltada em versos. Esta providência é mais importante do que proibir brincos em orelha de homem em bailes tradicionalistas.

Ao contrário de outros estados brasileiros, o Rio Grande do Sul tem um poderoso e benéfico culto à tradição. No entanto, a valorização da gente gaúcha não pode estar escorada no palanque do cultivo ao folclore, nem na valentia. Afinal, "não basta, pra ser livre, ser forte, aguerrido e bravo. Povo que não tem virtude acaba por ser escravo"4.

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(1) Anistia aos revoltosos, integração dos oficiais rebeldes ao Exército Imperial com suas patentes, liberdade para os escravos que haviam participado da guerra, devolução a seus donos de todas as propriedades ocupadas ou confiscadas durante a guerra, pagamento pelo Império das dívidas da guerra e indicação pelos Farrapos do presidente de sua Província.

(2) Os negros que ainda estavam incorporados no final da guerra, foram entregues a Caxias e mandados para o Rio de Janeiro para os trabalhos de galés, isto é, escravo do Estado. Estes cento e poucos sobreviventes trabalharam no porto da capital do Império, especialmente na sua construção e reforma (Tau).

(3) Não houve o Tratado de Paz de Ponche Verde, pois a assinatura de paz só poderia ser feita entre dois Estados, e o Império considerava os Farrapos apenas como rebeldes. Na verdade, os rebeldes foram anistiados pelo imperador conforme documento que concedia o perdão. Muitos oficiais farrapos desconheciam o "pedido de perdão" coletivo feito pela delegação farrapa. Ao descobrirem, transformou-se na causa de muitas desavenças entre eles após a guerra (Tau).
Em dezembro de 1844, a proposta de anistia foi aceita e solicitada por escrito pelos Farrapos! Em 23.2.1845 todos já haviam pedido anistia (Flores).

(4) verso do hino rio-grandense.

(5) Derrota é um termo de uso náutico que significa caminho navegado. No entanto, parece-me que meu ancestral referia-se à rota (caminho por navegar).

Regalo: popa.com.br