sexta-feira, 2 de julho de 2010

O gaucho e a bota de garrão

por Christian Davesac

É um feito comprovado que o couro vacum e cavalar foi a matéria prima empregada pelos povoadores da pampa gaucha em seus usos mais diversos, desde a rústica tenda até as várias aplicações na indústria caseira, o que já foi denominada como a civilização do couro. A vida errante e as privações que proporcionava em que as escassas povoações ficavam distantes, impulsionou a indústria de objetos rústicos, entre eles a bota de garrão, e, pelo fato desse gado vagar em quantidade pelos campos, o que pouco trabalho dava em bolear um animal de um bom couro para fazer um par de botas, cômodo e barato.

Mas, a bota de potro não foi o primeiro calçado do gaúcho, e sim, a bota de vaca. Segundo comprova a ata do Cabildo de Montevideo de agosto de 1785, na qual expressa: “Que a larga experiência dos abusos que se comete na campanha, conhecida há anos e que destrói o gado, unicamente com o objetivo de tirar-lhes a pele necessária para as botas, podendo dizer-se que tal costume, consome mais de 6 mil cabeças ao ano, pelo qual se propõe a proibição dessa classe de botas, substituindo pelo uso da de égua, com a qual se vai destruindo as éguas alçadas que tanto prejudicam os estancieiros”. E fez-se executar aplicando penas e recolhendo todas as botas possíveis que se queimavam publicamente nos muros de Montevideo.

Sobre as características da bota, escritores da época ainda registram em sua indumentária como: “botas de meio pé tiradas de uma peça de pele da perna dos potros e terneiras, servindo a curva para o talão”, e ainda, entre os índios tehuelches: “tanto os homens como as mulheres usam uma espécie de bota de pele de égua e de potrilhos, começavam por tirar a gordura do couro e depois de seco o engraxavam e sovavam-no para lhe tornar flexível e calçavam sem dar forma ou costura”.

Assim sendo, a “bota de garrão de égua” (isso é outra história...) contribuiu para o desenvolvimento da economia da época, o aumento do gado vacum e a quase extinção do cavalo na época, sendo o índio também contribuinte para este evento.

Parcialmente traduzido do texto “origen de la bota de potro”, de Martiniano Leguizamón, De Cepa Criolla. Editor Joaquín Sesé, La Plata, 1908.

Regalo foto: Eduardo Amorim
Regalo texto: RadioSul.Net

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