Primeiramente eu gostaria de parabenizar mais uma vez a Radio Sul.Net pelo espaço "COLUNISTAS" de seu site, é um baita regalo termos um local onde possamos resgatar causos perdidos, resgatando inclusive através da imaginação nossa TRADIÇÃO de fato.
Era um grande gaúcho desses que o tempo não desgastava, mas judiava um pouco... só um pouco. Chamava-se ANTÔNIO SILVÉRIO DIAS, homem rude, peleador e dono de seus próprios costumes. Pensava sempre em crescer, talvez mais do que precisava, sim... talvez mais do que precisava para ser um “grande homem”.
Numa certa manhã, de tantas que madrugou, saiu de sua estância em Pedras Altas rumo à banda oriental para adquirir uma outra, lá no Uruguai. Propriedade esta que começava aos olhos de quem vê longe e terminava longe dos olhos de quem vê bem longe. Era grande. Muito grande. Talvez maior do que a sua do lado de cá, talvez maior que o mundo... que o seu mundo.
Ainda troteando, acompanhado de dois cachorros e de Deus Nosso Senhor, parou e apeou num posto ainda de sua estância, na costa do Candiota, posto este que ficava a uns 20 km da sede ou, como queiram, de sua casa... ali, bem no passo donde atravessava do Brasil para o Uruguai; lugar gaúcho, ancestral, daqueles que o tempo também esqueceu... daqueles que quem cruza jamais esquece.
Proseou com o posteiro, outro homem simples que ali estava a guardar algo que não era seu, no caso, dele mesmo. Comentou com ele de sua viagem longa, solito, com seus companheiros e amigos bichos e o que lá faria. Foi um mate, dois, uma bóia em fogo de chão e seguiu, ao passito, tranquilo no más.
Chegou ao destino! Apeou pela segunda vez desde que saíra; com fala mansa, proseou com aquele paisano de boina moura sombreando a mirada e disse:
- Estou aqui hermano...! Vim fechar o negócio, conforme o combinado!
E o paisano respondeu:
- Por mim, tranquilo! Pero... tengo que decirte algo...
Pero?! Aquele “pero” não soou bem na cabeça do homem que já vinha com ela cansada do tranco, trote e por vezes algum galopito pra aquecer o corpo. De pronto lhe veio à cachola: “os mouros”! Eu disse que só fecharia o negócio se viesse junto a tropilha de mouros. O paisano então disse:
- Fechado sem os mouros!
Antônio silenciou no próprio silêncio de uma estância grande e, de pronto, alçou a perna.
Na volta, aquele pêlo responsável pela viagem perdida bem refletia o céu que mais parecia o lombo grande duma pedra moura, de tão cinza e osco pesado! É o tempo se interpretando com o fato ocorrido, pensava ele, resmungando com seu pingo e os cachorros. É tempo brabo: raio, trovão e tudo o que um temporal dos mais maleva atira quando resolve descer do céu pra terra, mas tudo é terra... e tudo é céu...
Parou no mesmo posto, onde desapontado contou ao posteiro, seu empregado que ainda ontem lhe fizera uma bóia gaúcha, que não havia comprado a estância. Ele, o único sabedor do que Antônio faria no lado de allá, logo exclamou:
- Os mouros... aquele castelhano não negociou os mouros e o senhor voltou sem nada... “sem campo”, sem mouros...
Novamente Antônio silenciou e...
Saindo dali, um pouco adiante, ainda com o céu querendo chegar à terra, foi atravessar uma sanga onde um raio guacho lhe acertou em cheio...e o silêncio pairou, e tudo parou...como se nada existisse, nem respirasse...
Um cachorro, o que já havia passado pela sanga no rastro de um sorro antes do raio, escapou; muito depois chegou à estância. Deram bóia pro cusco que estava faminto... ele comeu e retornou à sanga farejando o dono.
Quando morreu, Antônio trazia junto uma maleta de couro osco como o céu... como a pedra... como o tempo... e não menos osca que o lombo daqueles mouros que tanto queria... cheia de moedas de ouro e que serviria para pagar pela estância do outro lado...e a maleta?!... nunca mais se achou.
Hoje, a sanga que engordava o famoso Banhado dos Graxaim, chama-se “Sanga do Cemitério”; lugar ermo, silente, onde mal e mal se ouve o barulho da água na pedra; bem na beira do passo, cravada ao chão, uma cruz de ferro.
Dizem ainda que os que tentam achar a maleta das velhas e “valiosas” moedas ouvem os gritos de Antônio que se foi com seu cavalo e um de seus cachorros junto de nosso Senhor lá para o céu.... ou para a terra... bueno... naquele dia o céu desceu na terra ou talvez a terra quis beijar o céu...
...as moedas nunca mais apareceram. Souberam do acorrido, da viagem, da tropilha de mouros, tudo pelo posteiro, aquele que proseou, mateou e viu seu patrão chegar e partir.
Muitos dizem que as “valiosas” moedas de ouro, ainda estão ali, em Pedras Altas... na beira da Sanga do Graxaim, perto da cruz de ferro, naquele passo onde um raio guacho debruçou-se por sobre um gaúcho ...
Regalo imagem: Berega.com.br
Regalo texto: RadioSul.Net
- - - - - - - - - - -
por Helvio Luis L. Gomes CasalinhoEra um grande gaúcho desses que o tempo não desgastava, mas judiava um pouco... só um pouco. Chamava-se ANTÔNIO SILVÉRIO DIAS, homem rude, peleador e dono de seus próprios costumes. Pensava sempre em crescer, talvez mais do que precisava, sim... talvez mais do que precisava para ser um “grande homem”.
Numa certa manhã, de tantas que madrugou, saiu de sua estância em Pedras Altas rumo à banda oriental para adquirir uma outra, lá no Uruguai. Propriedade esta que começava aos olhos de quem vê longe e terminava longe dos olhos de quem vê bem longe. Era grande. Muito grande. Talvez maior do que a sua do lado de cá, talvez maior que o mundo... que o seu mundo.
Ainda troteando, acompanhado de dois cachorros e de Deus Nosso Senhor, parou e apeou num posto ainda de sua estância, na costa do Candiota, posto este que ficava a uns 20 km da sede ou, como queiram, de sua casa... ali, bem no passo donde atravessava do Brasil para o Uruguai; lugar gaúcho, ancestral, daqueles que o tempo também esqueceu... daqueles que quem cruza jamais esquece.
Proseou com o posteiro, outro homem simples que ali estava a guardar algo que não era seu, no caso, dele mesmo. Comentou com ele de sua viagem longa, solito, com seus companheiros e amigos bichos e o que lá faria. Foi um mate, dois, uma bóia em fogo de chão e seguiu, ao passito, tranquilo no más.
Chegou ao destino! Apeou pela segunda vez desde que saíra; com fala mansa, proseou com aquele paisano de boina moura sombreando a mirada e disse:
- Estou aqui hermano...! Vim fechar o negócio, conforme o combinado!
E o paisano respondeu:
- Por mim, tranquilo! Pero... tengo que decirte algo...
Pero?! Aquele “pero” não soou bem na cabeça do homem que já vinha com ela cansada do tranco, trote e por vezes algum galopito pra aquecer o corpo. De pronto lhe veio à cachola: “os mouros”! Eu disse que só fecharia o negócio se viesse junto a tropilha de mouros. O paisano então disse:
- Fechado sem os mouros!
Antônio silenciou no próprio silêncio de uma estância grande e, de pronto, alçou a perna.
Na volta, aquele pêlo responsável pela viagem perdida bem refletia o céu que mais parecia o lombo grande duma pedra moura, de tão cinza e osco pesado! É o tempo se interpretando com o fato ocorrido, pensava ele, resmungando com seu pingo e os cachorros. É tempo brabo: raio, trovão e tudo o que um temporal dos mais maleva atira quando resolve descer do céu pra terra, mas tudo é terra... e tudo é céu...
Parou no mesmo posto, onde desapontado contou ao posteiro, seu empregado que ainda ontem lhe fizera uma bóia gaúcha, que não havia comprado a estância. Ele, o único sabedor do que Antônio faria no lado de allá, logo exclamou:
- Os mouros... aquele castelhano não negociou os mouros e o senhor voltou sem nada... “sem campo”, sem mouros...
Novamente Antônio silenciou e...
Saindo dali, um pouco adiante, ainda com o céu querendo chegar à terra, foi atravessar uma sanga onde um raio guacho lhe acertou em cheio...e o silêncio pairou, e tudo parou...como se nada existisse, nem respirasse...
Um cachorro, o que já havia passado pela sanga no rastro de um sorro antes do raio, escapou; muito depois chegou à estância. Deram bóia pro cusco que estava faminto... ele comeu e retornou à sanga farejando o dono.
Quando morreu, Antônio trazia junto uma maleta de couro osco como o céu... como a pedra... como o tempo... e não menos osca que o lombo daqueles mouros que tanto queria... cheia de moedas de ouro e que serviria para pagar pela estância do outro lado...e a maleta?!... nunca mais se achou.
Hoje, a sanga que engordava o famoso Banhado dos Graxaim, chama-se “Sanga do Cemitério”; lugar ermo, silente, onde mal e mal se ouve o barulho da água na pedra; bem na beira do passo, cravada ao chão, uma cruz de ferro.
Dizem ainda que os que tentam achar a maleta das velhas e “valiosas” moedas ouvem os gritos de Antônio que se foi com seu cavalo e um de seus cachorros junto de nosso Senhor lá para o céu.... ou para a terra... bueno... naquele dia o céu desceu na terra ou talvez a terra quis beijar o céu...
...as moedas nunca mais apareceram. Souberam do acorrido, da viagem, da tropilha de mouros, tudo pelo posteiro, aquele que proseou, mateou e viu seu patrão chegar e partir.
Muitos dizem que as “valiosas” moedas de ouro, ainda estão ali, em Pedras Altas... na beira da Sanga do Graxaim, perto da cruz de ferro, naquele passo onde um raio guacho debruçou-se por sobre um gaúcho ...
Regalo imagem: Berega.com.br
Regalo texto: RadioSul.Net
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Tchê, é um prazer receber seu comentário e/ou sua crítica, fique a vontade para soltar o verbo e muito obrigado por sua participação. Forte abraço.