sexta-feira, 4 de junho de 2010

SOBRE LINHAS DE FRONTEIRAS

por Pedro Du Bois

Fronteiras
se destacam
em desigualdades: lados
se ofendem em salvaguardas

a diferenciação dos corpos
sobre mentes distantes
uma cerca
um rio
uma ponte
um sorriso
e uma morte

a ilusão de que a diferença
sobreposta ao gesto
gosta do que vê

ouvir hinos diferentes:
considerar verbos
e saber que a distância
se estende em capitais
além da compreensão
das leis
e ordens

desordenadamente
repetidas na singularidade
das roupas sóbrias
na sobriedade do acaso
no ocaso das dificuldades

a quantificação entre possibilidades
permite acompanhar olhos dispostos
na linha de defesa: ataque solidário
dos animais indistintos em sotaques

afrontar a terra ao lado
ladear a conquista do território
tornar a terra inconquistada

quando olhar ao horizonte desprezar
a cerca
acercar-se
do que pode ser a igualdade

talvez os deuses sejam os mesmos:
a contrição igual
o pecado original
a culpa acidental

não se remoer pelo outro
nem reacender a chama
nem rescender ao perfume
da fruta aqui
e ali
perpetrada
em árvores
singulares

fronteiriça: a linha imaginária
se realiza na alça de mira

olhares alcançam horizontes
humanamente desprovidos
da largura
da profundidade
do aprofundamento
naturalmente
colocados
pela ação
da terra
ante
o tempo

(assim considerado)

seus olhos repousam sobre os meus olhos
seu corpo disposto em alinhamento
seu sexo ocultado em uniformes

a uniformidade conduz o desgosto
no sofrimento pela (não) passagem

conserva a esperança de ser irmão
e irmã: sem servidão destacada
na aridez do solo
na serventia do caminho
na solidão

frente a frente: em frente ao consolo
repousam mãos elevadas em entrega

consumir o espaço: cada dia entender
(ou sonhar) o despropósito: descoser
a linha: esgarçar a distância
em romperes de aurora

acordar ao lado e saber-se
estrangeiro.

2 comentários:

  1. Caro Fernando, mais uma vez - como sempre - agradeço pela divulgação do poema. Abraços, Pedro.

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  2. Pedro, é um enorme regalo para nós termos você como parceiro, que vem fazendo poemas com enorme identificação em nossa cultura. Nós nativistas é que temos que agradecer.

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